O homem do
telhado
Quando a
gente passa em conjunto residencial e olha para o teto dos edifícios, fica
pensando que está passando numa estação espacial e que todas aquelas antenas
são instrumentos de comunicação com Marte, Vênus, Júpiter e outros planetas.
Conjunto
residencial é aquele local em que construíram 1.200 apartamentos, num só
edifício, ao lado de outro edifício com 1.400 apartamentos e na frente de outro
edifício com mais ou menos uns 1.800 apartamentos, que eles chamam de bloco.
Todos com televisão e todos com antena no telhado.
Vai daí que,
olhando para baixo, parece a entrada do prédio das Nações Unidas. Todas as
janelas têm bandeiras. Bandeiras em forma de meia, de calcinha, de ceroulas e
anáguas. E no telhado, parece aquela estação espacial que a gente falou. Só que
em vez de foguete, tem sempre um gato deitado ou uma pipa.
E quando o
dono do apartamento 1.191 chamou o antenista para colocar sua antena no
telhado, o homem se viu mal. Subiu lá e quando olhou o negócio pensou até em
instalar a antena no teto do vizinho. Vai daí ele conseguiu colocar a antena
bem na beirinha, em boa posição e miseravelmente dava pra assistir a meia hora
de Chacrinha sem que a televisão virasse de cabeça para baixo.
Mas,
infelizmente, não demora muito e quando menos a gente espera, a voltagem cai, a
corrente modifica e a dona boa que a gente tá vendo no vídeo vira aprendiz de
monstro.
E foi por
isso que o nossa amizade, morador no apartamento 1.191, mandou chamar o
antenista. Era um rapazinho com pinta de criado na república da Praia do Pinto,
magrinho e com mais ginga que pato sozinho em galinheiro de franga. Ele foi
chegando e explicando o babado todo:
— O morador
deve entender as mumunhas. Quando passa um ônibus elétrico, a corrente cai e
adefeculta a mensagem no vídeo. Às vêis é preciso um reajuste, pra que a
seletora da canalização das image fica clara outra vez.
O dono da
televisão não entendeu nada, aliás, nem eu, mas ele queria era a imagem boa e o
problema deveria ser antena. O rapazinho subiu para o telhado e meia hora
depois voltou:
— O senhor
vai desculpar, mas eu não posso fazer o serviço, não senhor.
— Ué, mas por
quê?
— Bem, é por
causa de que a antena está muito na beirinha.
— E daí, ó
meu??
— Daí, meu
distinto, eu tô fora. Se eu chegar muito na beira eu entro no ar e quem tem que
entrar no ar é a estação, não sou eu.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio
Porto). Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e
organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio -
1979 - Livraria José Olympio Editora.
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