CONVERSA NA FILA
Carlos Drummond de AndradeConversavam na fila do cinema:- E o seu caso com a Belmira?- Encerrado, depois de um incidente onfálico. Observei-lhe que não ficava bem ir à praia de tanga, quando ainda emergia daquele problema de cirsônfalo.- E ela?- Não gostou e rompemos. Nossa ligação teve um fim celíaco. E você e a Isadora?- Mal, meu caro. Sabia que ela é hipnóbata? E o pior de tudo: com loxodromismo. De noite é aquela confusão no apartamento: batida nos móveis, objetos quebrados, e ela volta com acrodinia, com meralgia ou com podalgia.- Que lástima.- Depois, a Isadora se distingue por uma total aprosexia. Não adiante falar com ela que tome cuidado, que se proteja. Sua desatenção é mesmo esplâncnica- Caso sério.- Pois é. Mas vamos mudar de assunto. Viu aquele projeto de superclínicas integradas do Quintiliano? Ele está entusiasmadíssimo!- Vi. Para mim, o Quintiliano é um caso de cianopsia empresarial. Vê lá se aquilo funciona.- Por que não? Você é que me parece com tendência fotodisfórica. Não capta a evidência solar da iniciativa.- Pode ser. Mas o Quintiliano é lalômano e dislálico há um tempo, e isso me irrita, ainda mais ligado à somatomegalia projetista.- Que tem isso? O essencial é que ele sabe ser sinérgico e sua doxomania semeia empreendimentos grandiosos.- É. Mas isto, ao fim de algum tempo, fica tautométrico.- Não interrompendo. Repare nessa garota à nossa frente.- Já notei. Onicófaga.- Nem por isso deixa de ser uma graça.- Você acha? Quando se virou, notei que é leptorrínica.- Quase nada!- Sem falar na anisocoria, que captei de relance.- Ora, nem se percebe!- E a pele...- Que tem a pele?- Xilóide.- Daqui a pouco você enxerga na coitadinha hipertricose, furfuração intensiva e até glossotriquia.- Que é que você quer? Graças a Deus, não sofro nem nunca sofri de hebetação.- Nem eu nunca lhe atribuí qualquer patose.- Eu sei. Quero provar apenas que meu senso crítico-estético não se acha em catábase. Nada me escapa. A propósito. Corrija-se. Você está meio camptocósmico- Dá para notar? Ainda bem que não estou opistótono, como o Ricardão.- É mesmo. O Ricardão jamais se mantém ortostático. Nossa turma, hem?- Realmente. O Guedes com aquele xiloma, o Tenório com o seu teratoma...- A pobre da Zuenilda às voltas com a sua colpocele...- E o Monjardim, cada vez mais anártrico, a ponto de não se entender mais o que ele quer dizerA Fila chegou ao guichê, o papo acabou, e eu não entendi ponto e vírgula do que os dois disseram. E você?
http://paginasclandestinas.blogspot.com.br/2011/04/jargao.html
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