Jogadores de futebol podem ser
vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de
futebol dizendo “estereotipação”? E, no entanto, por que não?
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra
galera.
- Minha saudação aos aficionados
do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
- Como é?
- Aí, galera.
- Quais são as instruções do
técnico?
- Nosso treinador vaticinou que,
com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um
contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do
sistema oposto, surpreendido pela
reversão inesperada do fluxo da ação.
- Ahn?
- É pra dividir no meio e ir pra
cima pra pegá eles sem calça.
- Certo. Você quer dizer mais
alguma coisa?
- Posso dirigir uma mensagem de
caráter sentimental, algo banal, talvez
mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões,
inclusive, genéticas?
- Pode.
- Uma saudação para a minha
progenitora.
- Como é?
- Alô, mamãe!
- Estou vendo que você é um,
um...
- Um jogador que confunde o
entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e
assim sabota a estereotipação.
- Estereoquê?
- Um chato?
Luís Fernando Veríssimo
- Isso.
Luís Fernando Veríssimo (In:
Correio Brasiliense, 13/05/1998)
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