sexta-feira, 12 de abril de 2013

Aí, galera


Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo “estereotipação”? E, no entanto, por que não?
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
- Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
- Como é?
- Aí, galera.
- Quais são as instruções do técnico?
- Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona  de preparação, aumentam as probabilidades de,  recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade,  valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema  oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.
- Ahn?
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça.
- Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
- Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental,  algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?
- Pode.
- Uma saudação para a minha progenitora.
- Como é?
- Alô, mamãe!
- Estou vendo que você é um, um...
- Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser  algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação.
- Estereoquê?
- Um chato?

Luís Fernando Veríssimo





- Isso.

Luís Fernando Veríssimo (In: Correio Brasiliense, 13/05/1998)

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