sábado, 23 de novembro de 2013

H. G. Wells

H. G. Wells

Imagine um mundo onde é possível fazer viagens no tempo, para o passado ou para o futuro, encontrar civilizações diferentes ou a própria civilização humana em estágios diferentes de evolução. Imagine a terra sendo invadida por seres de outros planetas com suas próprias tecnologias, ou então um homem que pudesse ser invisível. Herbert George Wells imaginou.
Tudo bem, hoje em dia Hollywood nos permite imaginar até mais e isso tudo dito acima parece até brincadeira de criança. Mas você não pensaria assim se em 1895, H. G. Wells não tivesse começado a imaginar.

Wells nasceu em 1866, em Bromley, na Inglaterra filho de um pequeno comerciante. Antes de ingressar na Escola Normal  de Ciências em Londres, onde conheceu Thomas H. Huxley de quem ficaria bastante amigo, Wells trabalhou como professor-assistente. Após se formar chegou a trabalhar como professor de biologia até se tornar jornalista e escritor profissional.

Seu primeiro livro publicado foi “A Máquina do Tempo”, em 1895, o romance inaugural das viagens para o futuro ou para o passado. Ao contrário de Júlio Verne, já famoso escritor de ficção científica (embora o termo ainda não tivesse sido cunhado – ele foi criado em 1926 por Hugo Gernsback na revista Amazing Stories), Wells tinha o foco de suas histórias na condição social do homem. Segundo teria dito Júlio Verne: “As criações do Sr. Wells pertencem sem reserva a uma era e grau de conhecimento científico muito distantes do presente, entretanto não vou dizer que inteiramente além dos limites do possível”.

Outras obras de H. G. Wells foram: A Ilha do Doutor Moureau (1896), O Homem Invisível (1897) e A Guerra dos Mundos (1898), trabalhos que o consagraram como um pioneiro da ficção científica. Outros trabalhos como Kipps (1905) e História de Mr. Polly (1910) não se tratam de ficção científica, assim como O Esboço da História (1920) e O Trabalho, Riqueza e Felicidade Humana (1932), considerados mais realistas. Em “The Fate of The Homo Sapiens” Wells já estava começando a abandonar o otimismo quanto ao desenvolvimento da raça humana e sua sobrevivência. Em 1904, Wells ainda publicou “Guerra Área” obra onde anteciparia os bombardeios que ocorreram na II Guerra.

Wells “previu” tantas descobertas em suas obras que alguns de seus leitores chegaram a acreditar até que o mundo seria como Wells o descrevesse em suas novelas, artigos e livros de ficção.

Wells morreu em 1946 por causas desconhecidas.

Por Caroline Faria



sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Conjunções

Conjunções

Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações ou dois termos semelhantes de uma mesma oração.

CLASSIFICAÇÃO
- Conjunções Coordenativas
- Conjunções Subordinativas

CONJUNÇÕES COORDENATIVAS
Dividem-se em:

- ADITIVAS: expressam a ideia de adição, soma.

Observe os exemplos:

- Ela foi ao cinema e ao teatro.
- Minha amiga é dona-de-casa e professora.
- Eu reuni a família e preparei uma surpresa.
- Ele não só emprestou o joguinho como também me ensinou a jogar.

Principais conjunções aditivas: e, nem, não só...mas também, não só...como também.

- ADVERSATIVAS
Expressam ideias contrárias, de oposição, de compensação. Exemplos:

- Tentei chegar na hora, porém me atrasei.
- Ela trabalha muito mas ganha pouco.
- Não ganhei o prêmio, no entanto dei o melhor de mim.
- Não vi meu sobrinho crescer, no entanto está um homem.

Principais conjunções adversativas: mas, porém, contudo, todavia, no entanto, entretanto.

ALTERNATIVAS
Expressam ideia de alternância.

- Ou você sai do telefone ou eu vendo o aparelho.
- Minha cachorra ora late ora dorme.
- Vou ao cinema quer faça sol quer chova.

Principais conjunções alternativas: Ou...ou, ora...ora, quer...quer, já...já.

CONCLUSIVAS
Servem para dar conclusões às orações. Exemplos:

- Estudei muito por isso mereço passar.
- Estava preparada para a prova, portanto não fiquei nervosa.
- Você me ajudou muito; terá, pois sempre a minha gratidão.

Principais conjunções conclusivas: logo, por isso, pois (depois do verbo), portanto, por conseguinte, assim.

EXPLICATIVAS
Explicam, dão um motivo ou razão:

- É melhor colocar o casaco porque está fazendo muito frio lá fora.
- Não demore, que o seu programa favorito vai começar.

Principais conjunções explicativas: que, porque, pois (antes do verbo), porquanto.

CLASSIFICAÇÃO DAS CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS

CAUSAIS
Principais conjunções causais: porque, visto que, já que, uma vez que, como (= porque). Exemplos:

- Não pude comprar o CD porque estava em falta.
- Ele não fez o trabalho porque não tem livro.
- Como não sabe dirigir, vendeu o carro que ganhou no sorteio.

COMPARATIVAS
Principais conjunções comparativas: que, do que, tão...como, mais...do que, menos...do que.

- Ela fala mais que um papagaio.

CONCESSIVAS
Principais conjunções concessivas: embora, ainda que, mesmo que, apesar de, se bem que.

Indicam uma concessão, admitem uma contradição, um fato inesperado.Traz em si uma ideia de “apesar de”.

- Embora estivesse cansada, fui ao shopping. (= apesar de estar cansada)
- Apesar de ter chovido fui ao cinema.

CONFORMATIVAS

Principais conjunções conformativas: como, segundo, conforme, consoante

- Cada um colhe conforme semeia.
- Segundo me disseram a casa é esta.

Expressam uma ideia de acordo, concordância, conformidade.

CONSECUTIVAS
Expressam uma ideia de consequência.

Principais conjunções consecutivas: que ( após “tal”, “tanto”, “tão”, “tamanho”).

- Falou tanto que ficou rouco.
- Estava tão feliz que desmaiou.

FINAIS
Expressam ideia de finalidade, objetivo.

- Todos trabalham para que possam sobreviver.
- Viemos aqui para que vocês ficassem felizes.

Principais conjunções finais: para que, a fim de que, porque (=para que),

PROPORCIONAIS
Principais conjunções proporcionais: à medida que, quanto mais, ao passo que, à proporção que.

- À medida que as horas passavam, mais sono ele tinha.
- Quanto mais ela estudava, mais feliz seus pais ficavam.

TEMPORAIS
Principais conjunções temporais: quando, enquanto, logo que.

- Quando eu sair, vou passar na locadora.
- Chegamos em casa assim que começou a chover.
- Mal chegamos e a chuva desabou.

Obs: Mal é conjunção subordinativa temporal quando equivale a "logo que".

O conjunto de duas ou mais palavras com valor de conjunção chama-se locução conjuntiva.

Exemplos: ainda que, se bem que, visto que, contanto que, à proporção que.

Algumas pessoas confundem as circunstâncias de causa e consequência. Realmente, às vezes, fica difícil diferenciá-las.

Observe os exemplos:
- Correram tanto, que ficaram cansados.

“Que ficaram cansados” aconteceu depois deles terem corrido, logo é uma consequência.
Ficaram cansados porque correram muito.

“Porque correram muito” aconteceu antes deles ficarem cansados, logo é uma causa.

Por Cristiana Gomes


Preposição

Preposição

Preposição é uma palavra invariável que serve para ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, normalmente há uma subordinação do segundo termo em relação ao primeiro. As preposições são muito importantes na estrutura da língua pois estabelecem a coesão textual  e possuem valores semânticos indispensáveis para a compreensão do texto.

Tipos de Preposição

1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente como preposições.

A, ante, perante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.

2. Preposições acidentais: palavras de outras classes gramaticais que podem atuar como preposições.

Como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.

3. Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo como uma preposição, sendo que a última palavra é uma delas.

Abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de, graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por trás de.

A preposição, como já foi dito, é invariável. No entanto pode unir-se a outras palavras e assim estabelecer concordância em gênero ou em número.

Ex: por + o = pelo

por + a = pela

Vale ressaltar que essa concordância não é característica da preposição e sim das palavras a que se ela se une.

Dicas sobre preposição

1. O “a” pode funcionar como preposição, pronome pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-los?

- Caso o “a” seja um artigo, virá precedendo a um substantivo. Ele servirá para determiná-lo como um substantivo singular e feminino.

- A dona da casa não quis nos atender.
- Como posso fazer a Joana concordar comigo?

- Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois termos e estabelece relação de subordinação entre eles.

- Cheguei a sua casa ontem pela manhã.
- Não queria, mas vou ter que ir à outra cidade para procurar um tratamento adequado.

- Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o lugar e/ou a função de um substantivo.

- Temos Maria como parte da família. / A temos como parte da família
- Creio que conhecemos nossa mãe melhor que ninguém. / Creio que a conhecemos melhor que ninguém.

2. Algumas relações semânticas estabelecidas por meio das preposições:

Destino

Irei para casa.

Modo

Chegou em casa aos gritos.

Lugar

Vou ficar em casa;

Assunto

Escrevi um artigo sobre adolescência.

Tempo

A prova vai começar em dois minutos.

Causa

Ela faleceu de derrame cerebral.

Fim ou finalidade

Vou ao médico para começar o tratamento.

Instrumento

Escreveu a lápis.

Posse

Não posso doar as roupas da mamãe.

Autoria

Esse livro de Machado de Assis é muito bom.

Companhia

Estarei com ele amanhã.

Matéria

Farei um cartão de papel reciclado.

Meio

Nós vamos fazer um passeio de barco.

Origem

Nós somos do Nordeste, e você?

Conteúdo

Quebrei dois frascos de perfume.

Oposição

Esse movimento é contra o que eu penso.

Preço

Essa roupa sai por R$ 50 à vista.

Por Ana Paula de Araújo



Ficção científica

Ficção Científica

A Ficção Científica  costuma ser definida como um gênero literário que engloba histórias fictícias, mas que se propõem a fantasiar sobre algo possível, mesmo que não o seja no presente. Entretanto, a ficção científica pode estar presente em histórias, filmes, livros e etc. que pertencem a outro gênero como romance, terror, ação. Basta considerar os sucessos de Hollywood como Alien e Predador classificados como filmes de terror, mas que apresentam muita ficção científica.

Seja como for, os precursores da ficção científica foram, sem sombra de dúvidas: H. G. Wells e Júlio Verne que disputam páreo a páreo o título de “pai da ficção científica”, e Mary Shelley, a mãe inconteste deste gênero que exige cabeças abertas e zero preconceito para a apreciação de novas e ousadas idéias.

Foram de H. G. Wells, por exemplo, as primeiras histórias sobre viagens no tempo (A Máquina do Tempo), invasões extraterrenas (A Guerra dos Mundos) e super heróis (O Homem Invisível), embora este último tipo de histórias  se confunda um pouco com as ficções fantásticas (quando o roteirista ou escritor, com todo direito, “viaja na maionese” e cria histórias ou situações que, comprovadamente, não podem ser reais, ou onde, pelo menos, não há a preocupação de afirmar a viabilidade real destes acontecimentos) e tenha suas raízes em histórias mitológicas como as de Hércules. Júlio Verne, por sua vez, inaugurou as histórias sobre viagens para fora da terra (Viagem a Lua) e viagens espetaculares aqui mesmo, na terra (Viagem ao Centro da Terra ou Vinte Mil Léguas Submarinas), e Mary Shelley, as histórias sobre criaturas especiais ou monstrengos (Frankenstein).

H. G. Wells parece ganhar o páreo com maior número de influências, mas é que Verner chegou primeiro. De qualquer forma, o fato é que a ficção científica está sempre lado a lado com a ciência. Em 1865, por exemplo, Júlio Verne levou o homem à lua. Assim como a NASA fez em 1969 com Neil Armstrong.

O termo “ficção científica” surgiu em 1929 das idéias de Hugo Gernsback, o mesmo que criou a lendária “Amazing Stories”, uma publicação especializada que ganhou até uma série homônima na televisão. Na década de 50 o termo “Sci-Fi”, abreviatura de “science fiction”, ganhou fama nos EUA.

Por Caroline Faria




sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Os homenzinhos de Grork (Luís Fernando Veríssimo)

Os homenzinhos de Grork

A ficção científica parte de alguns pressupostos, ou preconceitos, que nunca foram devidamente discutidos. Por exemplo: sempre que uma nave espacial chega à Terra vinda de outro planeta, é um planeta mais adiantado do que o nosso. Os extraterrenos nos intimidam com suas armas fantásticas ou com sua sabedoria exemplar. Pior do que o raio da morte é o seu ar de superioridade moral. A civilização deles é invariavelmente mais organizada e virtuosa do que a da Terra e eles não perdem a oportunidade de nos lembrar disto. Cansado de tanta humilhação, imaginei uma história de ficção diferente. Para começar, o Objeto Voador Não Identificado que chega à Terra, descendo numa planície do Meio-Oeste dos Estados Unidos, chama a atenção por um estranho detalhe: a chaminé.
― Vi com estes olhos, xerife. Ele veio numa trajetória irregular, deu alguns pinotes, tentou subir e depois caiu como uma pedra.
― Deixando um facho de luz atrás?
― Não, um facho de fumaça. Da chaminé.
― Chaminé? Impossível. Vai ver o alambique do velho Sam explodiu outra vez e sua cabana voou.
― Não. Tinha o formato de um disco voador. Mas com uma chaminé em cima.
O xerife chama as autoridades estaduais, que cercam o aparelho. Ninguém ousa se aproximar até que cheguem as tropas federais. Um dos policiais comenta para outro:
― Você notou? A vegetação em volta...
― Dizimada. Provavelmente um campo magnético destrutivo que cerca o disco e...
― Não. Parece cortada a machadinha. Se não fosse um absurdo eu até diria que eles estão colhendo lenha.
Nesse instante, um segmento de um dos painéis do disco, que é todo feito de madeira compensada, é chutado para fora e aparecem três homenzinhos com machadinhas sobre os ombros. Os três saem à procura de mais árvores para cortar. Estão examinando as pernas de um dos policiais, quando este resolve se identificar e aponta um revólver para os homenzinhos.
― Não se mexam ou eu atiro.
Os homenzinhos recuam, apavorados, e perguntam:
― Atira o quê?
― Atiro com este revólver.
O policial dá um tiro para o chão como demonstração. Os homenzinhos, depois de refeitos do susto, aproximam-se e passam a examinar a arma do policial, maravilhados. Os outros policiais saem de seus esconderijos e cercam os homenzinhos rapidamente. Mas não há perigo. Eles querem conversa. Para facilitar o desenvolvimento da história, todos falam inglês.
― Vocês não conhecem armas, certo? ― quer saber um Policial. ― Estão num estágio avançado de civilização em que as armas são desnecessárias. Ninguém mais mata ninguém.
― Você está brincando? ― responde um dos homenzinhos. ― Usamos machadinhas, tacapes, estilingue, catapulta, flecha, qualquer coisa para matar. Uma arma como essa seria um progresso incrível no nosso planeta. Precisamos copiá-la!
Chegam as tropas federais e diversos cientistas para examinarem os extraterrenos e seu artefato voador. Começam as perguntas. De que planeta eles são? De Grork. Como é que se escreve? Um dos homenzinhos risca no chão: GRRK.
― Deve faltar uma letra ― observa um dos cientistas.
― O "O".
― O "O"?
― Assim ― diz o cientista da Terra, fazendo uma roda no chão.
O homenzinho examina o "O". As possibilidades da forma são evidentes. A roda! Por que não tinham pensado nisso antes? Voltarão para o Grork com três idéias revolucionárias: o revólver, a roda e a vogal. Querem saber onde estão, exatamente. Nunca ouviram falar na Terra. Sempre pensaram que seu planeta fosse o centro do universo e aqueles pontinhos no céu, furos no manto celeste. Sua viagem era uma expedição científica para provar que o planeta Grork não era chato como muitos pensavam e que ninguém cairia no abismo se passasse do horizonte. Sua intenção era navegar até o horizonte.
E como tinham vindo parar na Terra?
Pois é. Alguma coisa deu errado.
Tinham descido na Terra, porque faltara lenha para a caldeira que acionava as pás que moviam o barco. Então aquilo era um barco? Bom, a idéia fora a de fazer um barco. Só que em vez de flutuar, ele subira. Um fracasso. Os homenzinhos convidam os cientistas a visitarem a nave. Entram pelo mesmo buraco de madeira da nave, que depois é tapado com uma prancha e a prancha pregada na parede. Outra boa idéia que levarão da Terra é a da dobradiça de porta.
O interior da nave é todo decorado com cortinas de veludo vermelho. Há vasos com grandes palmas, lustres, divãs forrados com cetim. Um dos homenzinhos explica que também tinham um piano de cauda, mas que o queimaram na caldeira quando faltou lenha. Tudo do mais moderno.
― E que mensagem vocês trazem para o povo da Terra? ― pergunta um dos cientistas.
Os homenzinhos se entreolham. Não vieram preparados. Mas como a Terra os recebeu tão bem, resolvem revelar o segredo mais valioso da sua civilização. A fórmula de transformar qualquer metal em ouro.
― Vocês conseguiram isso? ― espanta-se um cientista.
― Ainda não ― responde um homenzinho ― mas é só uma questão de tempo. Nossos cientistas trabalham sem cessar na fórmula, queimando velas toda a noite.
― Velas? Lá não há eletricidade?
― Elequê?
― Eletricidade. Energia elétrica. As coisas lá são movidas a quê?
― A vapor. É tudo com caldeira.
― Mas isso não é incômodo?
 ― Às vezes. O barbeador portátil, por exemplo. precisa de dois para segurar. Mas o resto...

Luís Fernando Veríssimo 

Vocabulário

Pressuposto - adj. Pronuncia-se: /pressupôsto/. Aquilo que se pode pressupor; presumido.  s.m. O que se pode supor de modo antecipado; pressuposição. O que se pretende alcançar, buscar; meta, objetivo etc. Plano que se faz para desenvolver alguma coisa; projeto. Desculpa ou razão dada para disfarçar o real motivo de um comportamento ou omissão; desculpa, pretexto. Jurídico. Circunstância ou fato classificado como um antecedente fundamental de outro.
http://www.dicio.com.br/pressuposto/

Os mistérios do Cosmos (Xisto no espaço)

OS MISTÉRIOS DO COSMOS

Lá se foi o foguete rumo ao Espaço! No primeiro segundo, subiu cinco metros: no seguinte, quinze; no terceiro, cinquenta, e assim por diante. A rápida e crescente aceleração provocou em Bruzo uma terrível sensação de esmagamento. O peso de ambos tivera um aumento aparente de... trezentos quilos cada um! Deitados em posição perpendicular ao eixo do foguete, os dois amigos tentavam suportar a pressão sem perder os sentidos.
- Tudo legal - conseguiu Xisto dizer em código,ainda que em voz ofegante, no microfone instalado perto da boca.
Três minutos depois ouviu-se um alto e profundo suspiro: o primeiro estágio do foguete terminara a sua combustão e desprendera-se, caindo em direção à Terra. Um novo impacto sacudiu os astronautas: o segundo estágio começara a funcionar automaticamente. Foram tremendos aqueles três minutos! O pulso de Xisto acelerou-se e, todo crispado, ele sentiu que a vista lhe escurecia. Estava prestes a ter uma síncope! Seu peso agora aumentara. . . setecentos quilos... Afundado no colchão, Bruzo curtia em silêncio o mais pavoroso dos medos. A astronave fora lançada de oeste para leste, a fim de aproveitar a direção e a velocidade de rotação da Terra. Pelo periscópio com espelho orientável, Xisto, mesmo perturbado como estava, via do leito o seu Planeta se distanciando, redondo e solto no Espaço, rodeado por uma cinta alaranjada, depois azul-pálida e, em seguida, azul forte. (Como já estavam longe Protônius, Van-Van e sua gente!) Um minuto depois, surgiu a face escura do céu feericamente constelado de estrelas que, devido à falta de atmosfera, ainda mais claras se tornavam. Um enorme disco, branco e luminoso como nunca, apareceu sem a auréola que o circunda, quando visto da Terra: o Sol. Dominado pelo mal-estar que sentia, Xisto nem pôde observar aquele espetáculo que lembrava um fantástico cenário de teatro! Subitamente parou o ronco dos motores. A nave abandonara o segundo estágio. Fez-se um silêncio total, e tudo ficou leve. . . leve. . . As duas barreiras do calor e da gravidade tinham sido vencidas: a primeira, provocada pelo atrito do ar graças ao material isolante que Van-Van empregara na construção do aparelho; a segunda, devido ao poderoso combustível utilizado, e que conseguira impulsionar os foguetes. Estavam entrando gradativamente no espaço sideral. Os dois amigos não mais sentiam o próprio peso, e tiveram a sensação de que seus leitos se afrouxaram como se houvessem caído num imenso poço sem fundo. . . Apertando um simples botão, os cintos que os atavam às camas se soltaram, e eles saíram para fora. Que horror!. . . Não conseguiram "tomar pé"! A perda de peso tivera como resultado o desaparecimento da noção de "embaixo" ou "em cima", de direita ou esquerda. Ambos flutuavam no ar em posições inteiramente ridículas! Boiando virado ao contrário, Bruzo parecia estar "plantando bananeira"... Que situação! Quando Xisto tentava estender os braços para a frente, via-se projetado para trás. Foi uma luta até que os dois conseguissem agarrar as alças que havia nas paredes da cabina, para servirem de ponto de apoio. Felizmente a parte interna da astronave era acolchoada, a fim de evitar que movimentos bruscos provocassem choques e ferimentos. Van-Van tivera a boa ideia de munir os calçados dos astronautas de ferraduras fortemente imantadas, as quais, atraídas pelo piso metálico, permitiam que eles pudessem andar sobre os pés e não sobre a. . . cabeça. E, aos poucos, acabaram se acostumando com a imponderabilidade. Xisto e Bruzo puderam, enfim, transformar os leitos em poltronas, desembaraçando-se dos escafandros interplanetários.


 ALMEIDA, Lúcia Almeida de – Xisto no espaço. 20ª Ed. São Paulo: Ática, 1984, p.15-17.

Vocabulário

perpendicular - adj.m. e adj.f. Geometria. Que forma ângulo reto com; diz-se das retas e/ou planos que podem ser interceptados por um ângulo reto; que produz um ângulo reto com outra reta ou plano. Que se encontra de modo exato no prumo.

combustão - s.f. Ação de queirmar: o ar é necessário à combustão.Quím. Qualquer reação química que produza calor e luz. A reação instantânea do oxigênio com qualquer substância é denominada combustão. Usualmente associa-se combustão a fogo, mas ela inclui muitas outras reações químicas. A combustão ocorre, por exemplo, quando o cloro queima em presença do gás hidrogênio, ou quando qualquer substância queima em presença de cloro.

crispado é uma palavra derivada de:crispar - v.t. Encrespar, franzir: crispar o cabelo. / Contrair: crispar as mãos de nervoso. / — V.pr. Contrair-se espasmodicamente, em consequência de irritação dos nervos.

síncope - s.f. Medicina Perda momentânea da consciência, acompanhada da suspensão real ou aparente da circulação e da respiração; chilique, delíquio, desmaio, faniquito, fanico.
Música Prolongamento sobre um tempo forte de uma nota emitida em tempo fraco ou na parte fraca de um tempo. (A síncope é ordinariamente representada por uma linha curva: ¿ ou º.)
Gramática Supressão de um ou mais fonemas no interior da palavra (ex.: maior [mor]).

feericamente – palavra derivada de feérico - adj. Que pertence ao mundo das fadas, ou é próprio de fadas; mágico. Fig. Deslumbrante, maravilhoso, espetacular: iluminação feérica.

escafandro - s.m. Equipamento de mergulho hermeticamente fechado que consiste em uma vestimenta impermeável provida de um aparelho respiratório que permite aos mergulhadores trabalhar debaixo de água.


http://www.dicio.com.br/

sábado, 21 de setembro de 2013

Lisbela e o prisioneiro

LISBELA E O PRISIONEIRO é uma comédia romântica e conta a história divertida do malandro, aventureiro e conquistador Leléu (Selton Mello, de A Invenção do Brasil, O Auto da Compadecida, Lavoura Arcaica), e da mocinha sonhadora Lisbela (Débora Falabella, de O Clone, Dois Perdidos em uma Noite Suja), que adora ver filmes americanos e sonha com os heróis do cinema.
  
Lisbela está noiva e de casamento marcado, quando Leléu chega à cidade. O casal se encanta e passa a viver uma história cheia de personagens tirados do cenário nordestino: Inaura, uma mulher casada e sedutora (Virginia Cavendish, de O Cravo e a Rosa, Dona Flor e seus Dois Maridos) que tenta atrair o herói; um marido valentão e "matador", Frederico Evandro (Marco Nanini, de Carlota Joaquina - Princesa do Brasil, O Auto da Compadecida); um pai severo e chefe de polícia, Tenente Guedes (André Mattos, de Como Nascem os Anjos); um pernambucano com sotaque carioca, Douglas (Bruno Garcia, de Os Maias, O Quinto dos Infernos), visto sob o prisma do humor regional; e um "cabo de destacamento", Cabo Citonho (Tadeu Mello, de Xuxa e os Duendes, O Cupido Trapalhão), que é suficientemente astuto para satisfazer os seus apetites.

Lisbela e Leléu vão sofrer pressões da família, do meio social e também com as suas próprias dúvidas e hesitações. Mas, em uma reviravolta final, cheia de bravura e humor, eles seguem seus destinos. Como a própria Lisbela diz, a graça não é saber o que acontece. É saber como acontece. Quando acontece.

Apesar da história se passar no nordeste brasileiro, os dramas destas personagens, suas aflições e sonhos são universais. Não se trata, portanto, de um filme regionalista, embora se utilize com inteligência dos recursos interessantes que uma história nordestina pode trazer, como o colorido das paisagens, o sotaque alegre e algumas tradições regionais.

Mesmo as personagens mais caricatas, como o Cabo Citonho, vivido por Tadeu Mello, funcionam com todos os seus trejeitos sem forçar a barra para ser engraçado. De modo geral, a escolha do elenco foi muito acertada: Selton Mello tem a mistura certa da doçura com a malandragem. Débora Falabella está perfeita no papel, com alegria, pureza e beleza transbordantes. Bruno Garcia sempre uma carta na manga do diretor, do popular ao irritante num pulo. Virginia Cavendish, uma das mentoras do projeto, linda, sensual e provocante, bem diferente da sua personagem boa moça de "O Auto da Compadecida". André Mattos já provou ser mais do que carismático e Marco Nanini fecha tudo com chave de ouro. Seu vilão cruel de olhos vermelhos e cabelos crespos dá o equilíbrio que a história exige, sem se tornar pesada demais.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Fala, amendoeira

Fala, amendoeira

Esse ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo exige que prestemos alguma atenção à natureza – essa natureza que não presta atenção em nós. Abrindo a janela matinal, o cronista deparou no firmamento, que seria de uma safira impecável se não houvesse a longa barra de névoa a toldar a linha entre céu e chão – névoa baixa e seca, hostil aos aviões. Pousou a vista, depois, nas árvores que algum remoto prefeito deu à rua, e que ainda ninguém se lembrou de arrancar, talvez porque haja outras destruições mais urgentes.  Estavam todas verdes, menos uma. Uma que, precisamente, lá está plantada em frente à porta, companheira mais chegada de um homem e sua vida, espécie de anjo vegetal proposto ao seu destino.
Essa árvore de certo modo incorporada aos bens pessoais, alguns fios elétricos lhe atravessam a fronde, sem que a molestem, e a luz crua do projetor, a dois passos, a impediria talvez de dormir, se ela fosse mais nova. Às terças, pela manhã, o feirante nela encosta sua barraca, e, ao entardecer, cada dia, garotos procuram subir-lhe pelo tronco. Nenhum desses incômodos lhe afeta a placidez de árvore madura e magra, que já viu muita chuva, muito cortejo de casamento, muitos enterros, e serve há longos anos à necessidade de sombra que têm os amantes de rua, e mesmo a outras precisões mais humildes de cãezinhos transeuntes.
Todas estavam ainda verdes, mas essa ostentava algumas folhas amarelas e outras já estriadas de vermelho, numa gradação fantasista que chegava mesmo até o marrom – cor final de decomposição, depois da qual as folhas caem. Pequenas amêndoas atestavam seu esforço, e também elas se preparavam para ganhar coloração dourada e, por sua vez, completado o ciclo, tombar sobre o meio-fio, se não as colhe algum moleque apreciador de seu azedinho. É como se o cronista, lhe perguntasse – Fala, amendoeira – por que fugia ao rito de suas irmãs, adotando vestes assim particulares, a árvore pareceu explicar-lhe:
-- Não vês? Começo a outonear. É 21 de março, data em que as folhinhas assinalam o equinócio do outono. Cumpro meu dever de árvore, embora minhas irmãs não respeitem as estações.
-- E vais outoneando sozinha?
-- Na medida do possível. Anda tudo muito desorganizado, e, como deves notar, trago comigo um resto de verão, uma antecipação de primavera e mesmo, se reparares bem neste ventinho que me fustiga pela madrugada, uma suspeita de inverno.
-- Somos todos assim.
-- Os homens, não. Em ti, por exemplo, o outono é manifesto e exclusivo. Acho-te bem outonal, meu filho, e teu trabalho é exatamente o que os autores chamam de outonada: são frutos colhidos numa hora da vida que já não é clara, mas ainda não se dilui em treva. Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza.
-- Não me entristeças.
-- Não, querido, sou tua árvore-de-guarda e simbolizo teu outono pessoal. Quero apenas que te outonize com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons suaves... Outoniza-se com dignidade, meu velho.
(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Processo de formação de palavras por composição



 Composição é o processo que forma palavras compostas, a partir da junção de dois ou mais radicais*. Existem dois tipos:

              Composição por Justaposição

                Ao juntarmos duas ou mais palavras ou radicais, não ocorre alteração fonética.

              Exemplos:

                passatempo, quinta-feira, girassol, couve-flor
               Obs.: em "girassol" houve uma alteração na grafia (acréscimo de um "s") justamente para manter inalterada a sonoridade da palavra.

               Composição por Aglutinação

               Ao unirmos dois ou mais vocábulos ou radicais, ocorre supressão de um ou mais de seus elementos fonéticos.

              Exemplos:

             embora (em boa hora)
              fidalgo (filho de algo - referindo-se à família nobre)
             hidrelétrico (hidro + elétrico)
             planalto (plano alto)
              Obs.: ao aglutinarem-se, os componentes subordinam-se a um só acento tônico, o do último componente.

             *Radical
              É a parte da palavra que tem significado. Também chamado de morfema lexical.

               TERR – radical da palavra terra, terreiro ou terraço.
              CAMP – radical da palavra campo, campestre.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Correspondência (Millôr Fernandes)

Correspondência

"Aquele rapazinho escreveu esta carta para o irmão:

Querido mano,
Anteontem futebolei bastante com uns amigos. Depois cigarrei um pouco e nos divertimos montanhando, até que o dia anoiteceu. Então desmontanhamos, nos amesamos, sopamos, arrozamos, bifamos, ensopadamos e cafezamos. Em seguida, varandamos. No dia seguinte, cavalamos muito.
Maninho

O irmão respondeu:

Maninho,
Ontem livrei-me pela manhã, à tarde cinemei e à noite, com papai e mamãe, teatramos. Hoje colegiei, ao meio-dia me leitei e às três papelei-me e canetei-me para escriturar-te. E paragrafrarei finalmente aqui porque é hora de adeusar-te, pois ainda tenho que correiar esta carta para ti e os relógios já estão cincando.
De teu irmão,
Fratelo"

(Millôr Fernandes)



sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Características da notícia

Todo jornal impresso ou televisionado é recheado de notícias, as quais fazem parte do nosso cotidiano e são importantes para nos mantermos atualizados.
O que vem a ser uma notícia? O que ela precisa ter? Como é feita?

 Notícia é um substantivo feminino e tem significado de informação, conhecimento, notificação. No âmbito da imprensa quer dizer o resumo de um acontecimento ou de um assunto.
Portanto, um resumo não pode conter muitas linhas! A notícia deve comunicar o fato e não traçar argumentos sobre ele.
O noticiário na TV ou a notícia no jornal deve responder algumas questões:

1.           “O quê?" - O fato ocorrido.
2.           "Quem?" - O personagem envolvido.
3.           "Quando?" - O momento do fato.
4.           "Onde?" - O local do fato.
5.           "Como?" - O modo como o fato ocorreu.
6.           "Por quê?" - A causa do fato.

A notícia é composta de duas partes: a manchete e o texto.
Manchete: resume a notícia em poucas linhas (2 a 3) e tem o objetivo de atrair o leitor para ler o texto.
Texto: os fatos narrados do acontecimento em questão.


Deste modo, quem escreve notícias deve ser um bom escritor, pois as palavras devem ter combinações tais que atraiam leitores e telespectadores!
Texto adaptado de

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Diferenças entre notícia e reportagem

Notícia

A notícia apura fatos .
A notícia tem como referência a imparcialidade.
A notícia opera em um movimento típico da indução (do particular para o geral).
A notícia atém-se à compreensão imediata dos dados essenciais.
A notícia independe da intenção do veículo (apesar de não ser imune a ela).
A notícia trabalha muito com o singular (ela se dedica a cada caso que ocorre).
A notícia relata formal e secamente – a pretexto de comunicar com imparcialidade.
A notícia tem pauta centrada no essencial que recompõe um acontecimento.

Reportagem

A reportagem lida com assuntos sobre fatos.
A reportagem trabalha com o enfoque, a interpretação.
A reportagem, com a dedução (do geral, que é o tema, ao particular – os fatos).
A reportagem converte fatos em assunto, traz a repercussão, o desdobramento; aprofunda.
A reportagem é produto da intenção de passar uma “visão” interpretativa.
A reportagem focaliza a repetição, a abrangência (transforma vários fatos em tema)
A reportagem procura envolver, usa a criatividade como recurso para seduzir o receptor.

A reportagem trabalha com pauta mais complexa, pois aponta para causas, contextos, consequências, novas fontes.

Informações extraídas de: 


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Trezentas onças (texto de Simões Lopes Neto) - exemplo de variante regional

TREZENTAS ONÇAS

- Eu tropeava, nesse tempo. Duma feita que viajava de escoteiro, com a guaiaca empanzinada de onças de ouro, vim varar aqui neste mesmo passo, por me ficar mais perto da estância da Coronilha, onde devia pousar.
Parece que foi ontem!... Era por fevereiro; eu vinha abombado da troteada.
- Olhe, ali, na restinga, à sombra daquela mesma reboleira de mato, que está nos vendo, na beira do passo, desencilhei; e estendido nos pelegos, a cabeça no lombilho, com o chapéu sobre os olhos, fiz uma sesteada morruda.
Despertando, ouvindo o ruído manso da água tão limpa e tão fresca rolando sobre o pedregulho, tive ganas de me banhar; até para quebrar a lombeira… e fui-me à água que nem capincho!
Debaixo da barranca havia um fundão onde mergulhei umas quantas vezes; e sempre puxei umas braçadas, poucas, porque não tinha cancha para um bom nado.
E solito e no silêncio, tornei a vestir-me, encilhei o zaino e montei.
Daquela vereda andei como três léguas, chegando à estância cedo ainda, obra assim de braça e meia de sol.
- Ah!…esqueci de dizer-lhe que andava comigo um cachorrinho brasino, um cusco mui esperto e boa vigia. Era das crianças, mas às vezes dava-me para acompanhar-me, e depois de sair a porteira, nem por nada fazia cara-volta, a não ser comigo. E nas viagens dormia sempre ao meu lado, sobre a ponta da carona, na cabeceira dos arreios.
Por sinal que uma noite...
Mas isto é outra cousa; vamos ao caso.
Durante a troteada bem reparei que volta e meia o cusco parava-se na estrada e latia e corria pra trás, e olhava-me, olhava-me, e latia de novo e troteava um pouco sobre o rastro; - parecia que o bichinho estava me chamando!... Mas como eu ia, ele tornava a alcançar-me, para dai a pouco recomeçar.
- Pois, amigo! Não lhe conto nada! Quando botei o pé em terra na ramada da estância, ao tempo que dava as - boas-tardes! - ao dono da casa, agüentei um tirão seco no coração... não senti na cintura o peso da guaiaca!
Tinha perdido trezentas onças de ouro que levava, para pagamento de gados que ia levantar.
E logo passou-me pelos olhos um clarão de cegar, depois uns coriscos tirante a roxo... depois tudo me ficou cinzento, para escuro...
Eu era mui pobre - e ainda hoje, é como vancê sabe... -; estava começando a vida, e o dinheiro era do meu patrão, um charqueador, sujeito de contas mui limpas e brabo como uma manga de pedras...
Assim, de meio assombrado me fui repondo quando ouvi que indagavam:
- Então patrício? está doente?
- Obrigado! Não senhor, respondi, não é doença; é que sucedeu-me uma desgraça: perdi uma dinheirama do meu patrão...
- A la fresca!...
- É verdade... antes morresse, que isto! Que vai ele pensar agora de mim!...
- É uma dos diabos, é...; mas não se acoquine, homem!
Nisto o cusco brasino deu uns pulos ao focinho do cavalo, como querendo lambê-lo, e logo correu para a estrada, aos latidos. E olhava-me, e vinha e ia, e tornava a latir...
Ah!... E num repente lembrei-me bem de tudo.
Parecia que estava vendo o lugar da sesteada, o banho, a arrumação das roupas nuns galhos de sarandi, e, em cima de uma pedra, a guaiaca e por cima dela o cinto das armas, e até uma ponta de cigarro de que tirei uma última tragada, antes de entrar na água, e que deixei espetada num espinho, ainda fumegando, soltando uma fitinha de fumaça azul, que subia, fininha e direita, no ar sem vento...; tudo, vi tudo.
Estava lá, na beirada do passo, a guaiaca. E o remédio era um só: tocar a meia rédea, antes que outros andantes passassem.
Num vu estava a cavalo; e mal isto, o cachorrinho pegou a retouçar, numa alegria, ganindo - Deus me perdoe! - que até parecia fala.
E dei de rédea, dobrando o cotovelo do cercado.
Ali logo frenteei com uma comitiva de tropeiros, com grande cavalhada por diante, e que por certo vinha tomar pouso na estância. Na cruzada nos tocamos todos na aba do sombreiro; uns quantos vinham de balandrau enfiado. Sempre me deu uma coraçonada para fazer umas perguntas... mas engoli a língua.
Amaguei o corpo e penicando de esporas, toquei a galope largo.
O cachorrinho ia ganiçando, ao lado, na sombra do cavalo, já mui comprida.
A estrada estendia-se deserta; à esquerda os campos desdobravam-se a perder de vista, serenos, verdes, clareados pela luz macia do sol morrente, manchados de pontas de gado que iam se arrolhando nos paradouros da noite; à direita, o sol, muito baixo, vermelho-dourado, entrando em massa de nuvens de beiradas luminosas.
Nos atoleiros, secos, nem um quero-quero: uma que outra perdiz, sorrateira, piava de manso por entre os pastos maduros; e longe, entre o resto da luz que fugia de um lado e a noite que vinha, peneirada, do outro, alvejava a brancura de um joão-grande, voando, sereno, quase sem mover as asas, como numa despedida triste, em que a gente também não sacode os braços...
Foi caindo uma aragem fresca; e um silêncio grande, em tudo.
O zaino era um pingaço de lei; e o cachorrinho, agora sossegado, meio de banda, de língua de fora e de rabo em pé, troteava miúdo e ligeiro dentro da polvadeira rasteira que as patas do flete levantavam.
E entrou o sol; ficou nas alturas um clarão afogueado, como de incêndio num pajonal; depois o lusco-fusco; depois; cerrou a noite escura; depois, no céu, só estrelas..., só estrelas...
O zaino atirava o freio e gemia no compasso do galope, comendo caminho. Bem por cima da minha cabeça as Três-Marias tão bonitas, tão vivas, tão alinhadas, pareciam me acompanhar..., lembrei-me dos meus filhinhos, que as estavam vendo, talvez; lembrei-me da minha mãe, de meu pai, que também as viram, quando eram crianças e que já as conheceram pelo seu nome de Marias, as Três-Marias. - Amigo! Vancê é moço, passa a sua vi-da rindo...; Deus o conserve!…, sem saber nunca como é pesada a tristeza dos campos quando o coração pena!...
- Há que tempos eu não chorava!... Pois me vieram lágrimas..., devagarinho, como gateando, subi-ram... tremiam sobre as pestanas, luziam um tempinho... e ainda quentes, no arranco do galope lá caíam elas na polvadeira da estrada, como um pingo d'água perdido, que nem mosca nem formiga daria com ele!...
Por entre as minhas lágrimas, como um sol cortando um chuvisqueiro, passou-me na lembrança a toada dum verso lá dos meus pagos:
Quem canta refresca a alma,
Cantar adoça o sofrer;
Quem canta zomba da morte:
Cantar ajuda a viver!...
Mas que cantar, podia eu!...
O zaino respirou forte e sentou, trocando a orelha, farejando no escuro: o bagual tinha reconhecido o lugar, estava no passo.
Senti o cachorrinho respirando, como assoleado. Apeei-me.
Não bulia uma folha; o silêncio, nas sombras do arvoredo, metia respeito... que medo, não, que não entra em peito de gaúcho.
Embaixo, o rumor da água pipocando sobre o pedregulho; vaga-lumes retouçando no escuro. Desci, dei com o lugar onde havia estado; tenteei os galhos do sarandi; achei a pedra onde tinha posto a guaiaca e as armas; cor-ri as mãos por todos os lados, mais pra lá, mais pra cá...; nada! nada!...
Então, senti frio dentro da alma…, o meu patrão ia dizer que eu o havia roubado!... roubado!... Pois então eu ia lá perder as onças!... Qual! Ladrão, ladrão, é que era!...
E logo uma tenção ruim entrou-me nos miolos: eu devia matar-me, para não sofrer a vergonha daquela suposição.
É; era o que eu devia fazer: matar-me... e já, aqui mesmo!
Tirei a pistola do cinto; armei-lhe o gatilho..., benzi-me, e encostei no ouvido o cano, grosso e frio, carregado de bala...
- Ah! patrício! Deus existe!...
No refilão daquele tormento, olhei para diante e vi... as Três-Marias luzindo na água... o cusco encarapitado na pedra, ao meu lado, estava me lambendo a mão... e logo, logo, o zaino relinchou lá em cima, na barranca do riacho, ao mesmíssimo tempo que a cantoria alegre de um grilo retinia ali perto, num oco de pau!...
- Patrício! não me avexo duma heresia; mas era Deus que estava no luzimento daquelas estrelas, era ele que mandava aqueles bichos brutos arredarem de mim a má tenção...
O cachorrinho tão fiel lembrou-me a amizade da minha gente; o meu cavalo lembrou-me a liberdade, o trabalho, e aquele grilo cantador trouxe a esperança...
Eh-pucha! patrício, eu sou mui rude... a gente vê caras, não vê corações...; pois o meu, dentro do peito, naquela hora, estava como um espinilho ao sol, num descampado, no pino do meio-dia: era luz de Deus por todos os lados!...
E já todo no meu sossego de homem, meti a pistola no cinto. Fechei um baio, bati o isqueiro e comecei a pitar.
E fui pensando. Tinha, por minha culpa, exclusivamente por minha culpa, tinha perdido as trezentas onças, uma fortuna para mim. Não sabia como explicar o sucedido, comigo, acostumado a bem cuidar das cousas. Agora... era vender o campito, a ponta de gado manso ¾ tirando umas leiteiras para as crianças e a junta dos jaguanés lavradores - vender a tropilha dos colorados… e pronto! Isso havia de chegar, folgado; e caso mermasse a conta..., enfim, havia se ver o jeito a dar... Porém matar-se um homem, assim no mais... e chefe de família... isso, não!
E d'espacito vim subindo a barranca; assim que me sentiu o zaino escarceou, mastigando o freio.
Desmaneei-o, apresilhei o cabresto; o pingo agarrou a volta e eu montei, aliviado.
O cusco escaramuçou, contente; a trote e galope voltei para a estância.
Ao dobrar a esquina do cercado enxerguei luz na casa; a cachorrada saiu logo, acuando. O zaino relinchou alegremente, sentindo os companheiros; do potreiro outros relinchos vieram.
Apeei-me no galpão, arrumei as garras e soltei o pingo, que se rebolcou, com ganas.
Então fui para dentro: na porta dei o - Louvado seja Jesu-Cristo; boa-noite! - e entrei, e comigo, rente o cusco. Na sala do estancieiro havia uns quatro paisanos; era a comitiva que chegava quando eu saía; corria o amargo.
Em cima da mesa a chaleira, e ao lado dela, enroscada, como uma jararaca na ressolana, estava a minha guaiaca, barriguda, por certo com as trezentas onças, dentro.
- Louvado seja Jesu-Cristo, patrício! Boa-noite! Entonces, que tal le foi de susto?...
E houve uma risada grande de gente boa.
Eu também fiquei-me rindo, olhando para a guaiaca e para o guaipeva, arrolhadito aos meus pés...




sábado, 18 de maio de 2013

A ciência da Educação


A ciência da educação

Estudantes brasileiros apresentam projetos que estudam questões relacionadas à educação em feira internacional de ciências

Em tempos em que apenas 2% dos jovens brasileiros se interessam pela carreira docente, é com boas vindas que as feiras de ciências do país recebem projetos da área de ciências humanas que mostram preocupação com a educação, seja no âmbito da sala de aula ou na busca de soluções que extrapolem os muros da escola.
Quatro desses projetos apresentados este ano nas duas maiores feiras do país, a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) e a Mostra de Ciência e Tecnologia (Mostratec), foram selecionados para disputar a edição 2013 da Intel International Science and Engineering Fair (Intel ISEF), a maior feira pré-universitária de ciências, que acontece nesta semana, em Phoenix, nos Estados Unidos.
"Participar da ISEF era um sonho para mim", revela entusiasmado Túlio Vinícius Andrade Souza, estudante de Recife e autor do projeto Educação física escolar: soluções pedagógicas para as principais dificuldades encontradas pelos professores da Educação Básica. Apesar de contar não ter recebido apoio da escola onde estudou, o jovem não desistiu do sonho e buscou orientação fora do ambiente escolar para realizar a iniciação científica, cujo objetivo era analisar a influência da escola no comportamento dos alunos em relação à saúde e ao sedentarismo.
Embora a educação física seja uma das disciplinas mais adequadas para trabalhar estes temas, Túlio constatou que suas condições de ensino são bastante precárias e buscou descobrir as principais dificuldades que os professores encontram. Para isso, ele elaborou um questionário que foi respondido por 20 professores de educação física da região metropolitana de Recife, sendo dez da rede pública, cinco da rede particular e cinco que lecionam em ambas as redes. A enquete apontou três problemas como os mais recorrentes: a falta de materiais, a infraestrutura precária e o desinteresse dos alunos.
Com os resultados em mãos, o estudante do 3° ano do ensino médio criou soluções pedagógicas que integrassem os alunos à aprendizagem. Durante três meses ele aplicou uma sequência didática com 45 alunos do 2° ano do ensino médio de uma escola particular para testar a eficácia da estratégia desenvolvida. "Os participantes responderam a questionários antes e depois das atividades desenvolvidas e pude perceber uma mudança comportamental e na percepção dos alunos em diversos aspectos", explica Túlio.
Para divulgar os resultados à comunidade escolar, Túlio desenvolveu uma cartilha com nove sequências didáticas, que traz temas como inclusão social, educação ambiental, a criação de materiais alternativos como ferramenta pedagógica, entre outros. Com a ajuda de sua orientadora, Gilvani Alves, gerente regional de Educação, Túlio submeteu o material à Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco, que está trabalhando no desenvolvimento da cartilha para ser usada na rede. O estudante pode também fazer uma palestra de capacitação com 19 professores, que já estão aplicando as soluções em aula. "Eu quero que o professor possa criar novas sequências de acordo com a dificuldade que ele encontrar. A educação física não é vista como as outras disciplinas; falta um livro que guie o professor, formação continuada e apoio pedagógico", enfatiza.

Integração entre áreas

Ao contrário de Túlio, Bianca Spina Papaleo, estudante do 3° ano do ensino médio do Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, recebeu todo o respaldo da escola para dar andamento ao projeto Construindo pontes: ampliando o olhar dos professores em relação aos transtornos mentais entre estudantes, para o desenvolvimento de melhor convívio escolar. A escola teve, aliás, um papel fundamental que levou Bianca a escolher pesquisar esse tema. Quando estava no 9° ano do ensino fundamental, a estudante teve um princípio de um distúrbio alimentar, identificado por uma professora de português que avisou a família da aluna. "Foi identificado tão rápido que eu não tive que fazer tratamento. Como eu tive essa oportunidade, quis dá-la a outras pessoas", conta.
O objetivo do projeto era encontrar uma forma com que os professores percebessem em sala de aula sinais que identificam alunos com transtornos mentais.  O primeiro passo foi criar um pré-teste para avaliar o conhecimento prévio dos professores acerca de alguns transtornos.
Bianca usou o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM - IV), elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria, que lista diferentes categorias de transtornos mentais e características para identificá-los, para avaliar o quanto os professores sabiam a respeito desses transtornos. Anorexia, bulimia, transtorno obsessivo- compulsivo (TOC), transtorno de ansiedade e depressão formam um grupo que os professores conhecem mais e têm mais facilidade para identificar características. Já em relação à esquizofrenia, abuso de álcool, transtorno bipolar e transtorno de oposição e desafio os professores demonstraram ter menos conhecimento.
Em um segundo momento, Bianca criou um protocolo combinando prevalência, risco e frequência dos transtornos para aumentar a possibilidade de identificação precoce dos portadores de modo que a escola organize um sistema de prevenção, em que o professor observa um sinal amarelo, alerta a orientação educacional que entre em contato com a família, sugerindo, se necessário, a intervenção de um especialista e criando, assim, uma ponte entre alunos, professores, orientação educacional, família e especialistas.
"Alguns professores, no entanto, não tem as ferramentas necessárias para fazer isso", reconhece Bianca. Por isso a estudante realizou em sua escola uma palestra e um workshop interativo, procurando reforçar os pontos mais importantes do protocolo. O próximo passo é criar cursos de capacitação com estudos de caso dentro do próprio ambiente escolar. "Estamos pensando em como fazer esse treinamento. Eu também quero acompanhar os professores no dia a dia para ver se eles têm observado os alunos", planeja Bianca.

Jovens cientistas
Além dos projetos de Túlio e Bianca, outros dois projetos relacionados ao universo educacional participam da ISEF: Can Game, dos estudantes Hitallo Cavalcanti, Luiz Reis Neto e Thiago Pedrosa, que surgiu com o intuito de desenvolver um jogo multidisciplinar voltado para o autismo, e Pesquisa na web por discentes de iniciação científica júnior: uma análise sobre as fontes de informação online utilizadas, de Sandro Bertelli, cujo objetivo era identificar a necessidade de ampliar investimentos em processos educativos que dêem condições para os estudantes usarem corretamente os dados e informações online.
A delegação brasileira é formada por 28 alunos de diversas partes do país, de escolas públicas ou particulares. Realizada desde 1950, a Intel ISEF reunirá mais de 1600 jovens cientistas que disputam prêmios em dinheiro e bolsas de estudo nas mais renomadas universidades do mundo.
Em 2012, o principal destaque brasileiro foram os estudantes Eduardo Thadeu Rodrigues e Juliana Hoch, de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul. Com oprojeto Facilitando a conservação da vida - Alternativas de separação de Ácido Lactobiônico e Sorbitol, que busca uma alternativa de separação dos dois compostos que são utilizados nos líquidos que conservam a estrutura celular dos tecidos, os jovens cientistas conquistaram o terceiro lugar do prêmio Grand Award, na categoria Bioquímica, e o quarto lugar no prêmio "American Chemical", cada prêmio no valor de US$ 1.000,00.


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Muito barulho por nada


Muito barulho por nada

Eu vivo a observar minha vizinhança, onde há pessoas de bom coração e bem divertidas. Pensei, então, que um dos fatos ocorridos com elas poderia dar uma ótima crônica. Sentei em frente ao meu computador e comecei a lembrar de um caso que vi outro dia...
Esqueci-me de dizer com quem se passou esse caso. Sou morador de um prédio onde também mora, e é faxineira, dona Ana, uma senhora muito fofoqueira. Ela tem uma filha chamada Fernanda, universitária que cursa Letras e não fica atrás nas fofocas.
Todos os dias, aqui na rua seu João, um catador de recicláveis muito gente boa, junta-se as duas para falar de tudo que se passa e de todos que passam na rua.
Voltemos ao caso. Estava acontecendo uma certa “confusão” na casa vizinha. E lá estavam os três a fofocar.
– Mãe, o que que tá acontecendo ali?
– Oxe, minha fia, só pode ser um fuzuê desgramado! Disse dona Ana esticando o pescoço para tentar ver o que se passava. Nesse instante, chega seu João:
– É mermo! Deve de ser bagunça, cadiquê aquele povo vive arrumano confusão.
– Olhe lá o vizim no maió aperrei... Duvido que ele não pegou a muié dele com outro caba. Fiquei sabenu que ele tava mei cabreiro com ela.
– É mesmo, mãe! Me falaram que ele tava desconfiado dela com o irmão! Acredita?
– Eu
– Eu já ovi uas história assim... O marido até mato a mulé por causo disso.
– Será que ele bateu nela? Escuitei um salcero essa noite... Boa coisa num é!
– Eu vi eles compranu uas bebida. Deve tudo ter bibido até rumar essa confusão aí ó...
– É verdade, mas é mió nóis pregunta pro povo aí da rua. Oxente! Vai que dá um tiro, sei lá...
– Isso! Os três concordaram.
– Ei, mininu!
– Diga, dona Ana...
– Sabe que fuzuê é aquele ali? Tá um entre e sai de gente danado...
O rapaz, conhecendo bem os três, olha-os com um sorriso irônico no rosto e responde:
– Sei sim... é que tá rolando uma festa. Eles tão comemorando porque a moça tá grávida...

T. P., Turma 1901


O homem do telhado


O homem do telhado

Quando a gente passa em conjunto residencial e olha para o teto dos edifícios, fica pensando que está passando numa estação espacial e que todas aquelas antenas são instrumentos de comunicação com Marte, Vênus, Júpiter e outros planetas.
 Conjunto residencial é aquele local em que construíram 1.200 apartamentos, num só edifício, ao lado de outro edifício com 1.400 apartamentos e na frente de outro edifício com mais ou menos uns 1.800 apartamentos, que eles chamam de bloco. Todos com televisão e todos com antena no telhado.
 Vai daí que, olhando para baixo, parece a entrada do prédio das Nações Unidas. Todas as janelas têm bandeiras. Bandeiras em forma de meia, de calcinha, de ceroulas e anáguas. E no telhado, parece aquela estação espacial que a gente falou. Só que em vez de foguete, tem sempre um gato deitado ou uma pipa.
E quando o dono do apartamento 1.191 chamou o antenista para colocar sua antena no telhado, o homem se viu mal. Subiu lá e quando olhou o negócio pensou até em instalar a antena no teto do vizinho. Vai daí ele conseguiu colocar a antena bem na beirinha, em boa posição e miseravelmente dava pra assistir a meia hora de Chacrinha sem que a televisão virasse de cabeça para baixo.
 Mas, infelizmente, não demora muito e quando menos a gente espera, a voltagem cai, a corrente modifica e a dona boa que a gente tá vendo no vídeo vira aprendiz de monstro.
 E foi por isso que o nossa amizade, morador no apartamento 1.191, mandou chamar o antenista. Era um rapazinho com pinta de criado na república da Praia do Pinto, magrinho e com mais ginga que pato sozinho em galinheiro de franga. Ele foi chegando e explicando o babado todo:
 — O morador deve entender as mumunhas. Quando passa um ônibus elétrico, a corrente cai e adefeculta a mensagem no vídeo. Às vêis é preciso um reajuste, pra que a seletora da canalização das image fica clara outra vez.
O dono da televisão não entendeu nada, aliás, nem eu, mas ele queria era a imagem boa e o problema deveria ser antena. O rapazinho subiu para o telhado e meia hora depois voltou:
 — O senhor vai desculpar, mas eu não posso fazer o serviço, não senhor.
 — Ué, mas por quê?
 — Bem, é por causa de que a antena está muito na beirinha.
 — E daí, ó meu??
 — Daí, meu distinto, eu tô fora. Se eu chegar muito na beira eu entro no ar e quem tem que entrar no ar é a estação, não sou eu.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto). Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.