sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Os mistérios do Cosmos (Xisto no espaço)

OS MISTÉRIOS DO COSMOS

Lá se foi o foguete rumo ao Espaço! No primeiro segundo, subiu cinco metros: no seguinte, quinze; no terceiro, cinquenta, e assim por diante. A rápida e crescente aceleração provocou em Bruzo uma terrível sensação de esmagamento. O peso de ambos tivera um aumento aparente de... trezentos quilos cada um! Deitados em posição perpendicular ao eixo do foguete, os dois amigos tentavam suportar a pressão sem perder os sentidos.
- Tudo legal - conseguiu Xisto dizer em código,ainda que em voz ofegante, no microfone instalado perto da boca.
Três minutos depois ouviu-se um alto e profundo suspiro: o primeiro estágio do foguete terminara a sua combustão e desprendera-se, caindo em direção à Terra. Um novo impacto sacudiu os astronautas: o segundo estágio começara a funcionar automaticamente. Foram tremendos aqueles três minutos! O pulso de Xisto acelerou-se e, todo crispado, ele sentiu que a vista lhe escurecia. Estava prestes a ter uma síncope! Seu peso agora aumentara. . . setecentos quilos... Afundado no colchão, Bruzo curtia em silêncio o mais pavoroso dos medos. A astronave fora lançada de oeste para leste, a fim de aproveitar a direção e a velocidade de rotação da Terra. Pelo periscópio com espelho orientável, Xisto, mesmo perturbado como estava, via do leito o seu Planeta se distanciando, redondo e solto no Espaço, rodeado por uma cinta alaranjada, depois azul-pálida e, em seguida, azul forte. (Como já estavam longe Protônius, Van-Van e sua gente!) Um minuto depois, surgiu a face escura do céu feericamente constelado de estrelas que, devido à falta de atmosfera, ainda mais claras se tornavam. Um enorme disco, branco e luminoso como nunca, apareceu sem a auréola que o circunda, quando visto da Terra: o Sol. Dominado pelo mal-estar que sentia, Xisto nem pôde observar aquele espetáculo que lembrava um fantástico cenário de teatro! Subitamente parou o ronco dos motores. A nave abandonara o segundo estágio. Fez-se um silêncio total, e tudo ficou leve. . . leve. . . As duas barreiras do calor e da gravidade tinham sido vencidas: a primeira, provocada pelo atrito do ar graças ao material isolante que Van-Van empregara na construção do aparelho; a segunda, devido ao poderoso combustível utilizado, e que conseguira impulsionar os foguetes. Estavam entrando gradativamente no espaço sideral. Os dois amigos não mais sentiam o próprio peso, e tiveram a sensação de que seus leitos se afrouxaram como se houvessem caído num imenso poço sem fundo. . . Apertando um simples botão, os cintos que os atavam às camas se soltaram, e eles saíram para fora. Que horror!. . . Não conseguiram "tomar pé"! A perda de peso tivera como resultado o desaparecimento da noção de "embaixo" ou "em cima", de direita ou esquerda. Ambos flutuavam no ar em posições inteiramente ridículas! Boiando virado ao contrário, Bruzo parecia estar "plantando bananeira"... Que situação! Quando Xisto tentava estender os braços para a frente, via-se projetado para trás. Foi uma luta até que os dois conseguissem agarrar as alças que havia nas paredes da cabina, para servirem de ponto de apoio. Felizmente a parte interna da astronave era acolchoada, a fim de evitar que movimentos bruscos provocassem choques e ferimentos. Van-Van tivera a boa ideia de munir os calçados dos astronautas de ferraduras fortemente imantadas, as quais, atraídas pelo piso metálico, permitiam que eles pudessem andar sobre os pés e não sobre a. . . cabeça. E, aos poucos, acabaram se acostumando com a imponderabilidade. Xisto e Bruzo puderam, enfim, transformar os leitos em poltronas, desembaraçando-se dos escafandros interplanetários.


 ALMEIDA, Lúcia Almeida de – Xisto no espaço. 20ª Ed. São Paulo: Ática, 1984, p.15-17.

Vocabulário

perpendicular - adj.m. e adj.f. Geometria. Que forma ângulo reto com; diz-se das retas e/ou planos que podem ser interceptados por um ângulo reto; que produz um ângulo reto com outra reta ou plano. Que se encontra de modo exato no prumo.

combustão - s.f. Ação de queirmar: o ar é necessário à combustão.Quím. Qualquer reação química que produza calor e luz. A reação instantânea do oxigênio com qualquer substância é denominada combustão. Usualmente associa-se combustão a fogo, mas ela inclui muitas outras reações químicas. A combustão ocorre, por exemplo, quando o cloro queima em presença do gás hidrogênio, ou quando qualquer substância queima em presença de cloro.

crispado é uma palavra derivada de:crispar - v.t. Encrespar, franzir: crispar o cabelo. / Contrair: crispar as mãos de nervoso. / — V.pr. Contrair-se espasmodicamente, em consequência de irritação dos nervos.

síncope - s.f. Medicina Perda momentânea da consciência, acompanhada da suspensão real ou aparente da circulação e da respiração; chilique, delíquio, desmaio, faniquito, fanico.
Música Prolongamento sobre um tempo forte de uma nota emitida em tempo fraco ou na parte fraca de um tempo. (A síncope é ordinariamente representada por uma linha curva: ¿ ou º.)
Gramática Supressão de um ou mais fonemas no interior da palavra (ex.: maior [mor]).

feericamente – palavra derivada de feérico - adj. Que pertence ao mundo das fadas, ou é próprio de fadas; mágico. Fig. Deslumbrante, maravilhoso, espetacular: iluminação feérica.

escafandro - s.m. Equipamento de mergulho hermeticamente fechado que consiste em uma vestimenta impermeável provida de um aparelho respiratório que permite aos mergulhadores trabalhar debaixo de água.


http://www.dicio.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário