QUAL A DIFERENÇA
ENTRE CHARGE, CARTUM E QUADRINHOS?
Essas formas de humor são produtos da
capacidade que o ser humano tem de poder ver graça nas pessoas e situações. O
humor - peculiaridade inerente do Homem - se manifesta por meio de gestos,
encenações, olhares, sons e textos. Num momento inspirado ele faz uma crítica
de costumes, de moral, de comportamento social, seja cantando, imitando,
encenando uma situação que reflete aquilo que viu e/ou sentiu. Claro que às
vezes ele distorce e exagera o fato para dar um toque cômico à sua
demonstração, com o intuito apenas de obter o riso. Quando consegue isso, fica
satisfeito, pois seu objetivo foi alcançado.
Muito hábil, o Homem quando não consegue
contar, encenar ou cantar, usa o desenho. Nesse momento surge a caricatura, uma
forma que existe desde que ele aprendeu a rabiscar nas cavernas ou seja: um
recurso que inventou para manifestar sua imaginação em relação ao mundo que o
cercava.
Com o tempo surgiu a charge, o cartum e os
quadrinhos. Não é fácil estabelecer uma diferença definitiva entre essas formas
de arte. Vamos tentar:
Caricaturar é deformar as características
marcantes de uma pessoa, animal, coisa, fato, mantendo-as próximas do original
para haver referência na identificação. A caricatura, em geral, pode ser usada
como ilustração de uma matéria (fato), mas quando esse "fato" pode
ser contado inteiramente numa forma gráfica, é chamado de charge. Portanto, a charge nasceu da caricatura. Isso foi
no século XIX, quando o desenhista francês Honoré Daumier criticava
implacavelmente o governo da época com seu traço ferino no jornal La
Caricature. Ao invés de escrever nomes ou descrever fatos ele ia à carga
(charge = ataque) e impunha uma "opinião" traduzindo ou interpretando
os fatos em imagens sintéticas que misturavam pessoas (figura social), vestimentas
(classe social) e a situação (cenário). Os jornais logo perceberam o potencial
da charge para noticiar atacando as áreas: política, esportiva, religiosa,
social. O público adorou. A partir daí a charge virou "forma de
expressão" passando a ser arte e... arma! A forma gráfica da charge pode
ter uma imagem (a mais comum) e também ter uma seqüência de duas ou três cenas
ou estar dentro de quadrinhos ou totalmente aberta, com balões ou legendas.
Entretanto, essa poderosa arma está ligada aos costumes de uma época e região.
Se for transportada para fora desse ambiente, a charge perde o impacto, pois é
feita para compreensão imediata daqueles que conhecem os símbolos e costumes
usados na referência. Essa é uma limitação da charge, pois torna-a temporal e
perecível. Mas tem uma vantagem: dependendo de sua força informativa, pode
ocupar o lugar de uma matéria ou artigo. Por isso, hoje, é merecidamente
definida como um "artigo assinado".
O
cartum veio depois da charge e é diferente. A palavra inglesa
"cartoon" significa: cartão, papelão duro, e deu origem ao termo
cartunist ou seja: desenhista de cartazes. No Brasil, o cartum também é uma
forma de expressar idéias e opiniões, seja uma crítica política, esportiva,
religiosa, social. O desenho pode ter uma imagem (isolado), duas ou três
(seqüenciado) dentro de quadrinhos ou aberto; pode ter balões, legendas e se
beneficiar de temas fixos. Alguns cartuns têm caricatura, mas é muito raro - a
não ser quando usado para satirizar figuras históricas conhecidas (Hitler,
Napoleão, etc.).
A forma do Cartum é universal, atemporal e
não-perecível. Qualquer leitor do mundo ri com o náufrago, o amante dentro do
armário, brigas entre anjo e diabo, gato e cachorro, marido e mulher. Os temas:
ET's, amor, esportes, família e pesca, são muito explorados. O comportamento
geral de políticos, militares e religiosos também, pois não é preciso definir
seus países, uma vez que agem de forma igual. Num jornal, o cartum pode até
ilustrar uma matéria (ilustração), porém muito raramente ocupará o lugar de um
artigo assinado como a ferina e combativa charge.
Claro que a seqüência narrativa do cartum
está próxima à dos quadrinhos - principalmente quando se desenrola em várias
cenas -, mas isso não o torna quadrinho, pois falta-lhe personagem fixo e
elenco. Por outro lado, o cartum pode ser feito com apenas um quadro (cena) e
os quadrinhos não (com exceção da tira).
Os
quadrinhos têm personagens e elenco fixos, narrativa seqüencial em quadros
numa ordem de tempo onde um fato se desenrola através de legendas e balões com
texto pertinente à imagem de cada quadrinho. A história pode se desenvolver
numa tira, numa página ou em duas ou
em várias páginas (revista ou álbum). É óbvio que para uma história ser em
quadrinhos ela precisa ter no mínimo dois quadrinhos (ou cenas). A tira diária
é uma exceção, pois, às vezes, a história pode ser muito bem contada em 1 só
"quadrinho" (o espaço da própria tira), mas isso não a torna um
cartum, apesar da proximidade.
Uma História em Quadrinhos é ampla e
maleável. Pode ser temporal, atemporal, regional, política, policial,
científica, social, erótica, esportiva, esotérica, histórica, infantil, adulta,
underground, terror e de humor. Utiliza figuras humanas perfeitas ou
destorcidas (caricaturadas), animais humanizados, homens animalizados, bonecos,
objetos, etc.
Alguns diretores de cinema, antes de fazer
um filme, quadrinizam as ações - como o caso de George Lucas em "Guerra na
Estrelas". Por outro lado algumas editoras quadrinizam um filme de sucesso
e vendem a história em bancas em forma de revista.
Por Fernando A. Moretti
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