sexta-feira, 20 de julho de 2012

Frases comparativas gaúchas


É muito comum no sul do Brasil em especial no Rio Grande do Sul, a utilização de frases comparativas sempre que desejamos reafirmar algo do qual estamos falando que em geral resultam bem humoradas e cômicas.

  • 1.    Mais afiada que língua de sogra
  • 2.    Mais afiada que navalha de barbeiro caprichoso
  • 3.    Mais amontoado que uva em cacho.
  • 4.    Mais angustiado que barata de barriga pra cima.
  • 5.    Mais apertado que chapéu novo.
  • 6.    Mais apressado que cavalo de carteiro.
  • 7.    Mais apressado que cuspida de músico.
  • 8.    Mais assustado que cachorro em canoa.
  • 9.    Mais atirado que alpargata em cancha de bocha.
  • 10. Mais caro que alimentar elefante com bombom.
  • 11. Mais chato que pernilongo gordo.
  • 12. Mais complicado que calça de polvo.
  • 13. Mais comprido que cuspe de bêbado.
  • 14. Mais comprido que esperança de pobre.
  • 15. Mais comprido que suspiro em velório.
  • 16. Mais comprido que trova de gago.
  • 17. Mais conhecido que andar pra frente.
  • 18. Mais contente que centopéia de sapato novo.
  • 19. Mais contente que cão com dois rabos.
  • 20. Mais curto que coice de porco.
  • 21. Mais demorado que enterro de rico.
  • 22. Mais encolhido que tripa na brasa.
  • 23. Mais enfeitado que burro de cigano em festa.
  • 24. Mais enrolado que briga de polvos.
  • 25. Mais enrolado que linguiça de venda.
  • 26. Mais ensebado que telefone de açougueiro
  • 27. Mais estreito que garagem de bicicleta.
  • 28. Mais faceiro que guri de calça nova.
  • 29. Mais faceiro que mosca em tampa de xarope.
  • 30. Mais faceiro que sapo em banhado.
  • 31. Mais falso que nota de três.
  • 32. Mais fechado que porta de submarino.
  • 33. Mais fedorento que arroto de corvo.
  • 34. Mais feio que briga de foice no escuro.
  • 35. Mais feio que indigestão de torresmo.
  • 36. Mais fino que assobio de papudo.
  • 37. Mais fino que freada de bicicleta.
  • 38. Mais firme que prego na polenta.
  • 39. Mais folgado que colarinho de palhaço.
  • 40. Mais fácil que tabuada do um.
  • 41. Mais fácil que tirar doce de guri.
  • 42. Mais gordo que mosca de mercearia.
  • 43. Mais grosso que cintura de sapo.
  • 44. Mais grosso que rolha de poço.
  • 45. Mais imprestável que fósforo a prova de fogo.
  • 46. Mais informado que gerente de funerária.
  • 47. Mais inútil que alvo inflável para dardos.
  • 48. Mais inútil que buzina em avião.
  • 49. Mais inútil que para-lama de barco.
  • 50. Mais inútil que sauna no deserto.
  • 51. Mais lento que desfile de mancos.
  • 52. Mais lento que tartaruga grávida.
  • 53. Mais ligado que rádio de preso.
  • 54. Mais ligeiro que enterro de pobre.
  • 55. Mais longo que esperança de pobre.
  • 56. Mais magro e comprido que o mapa de Chile.
  • 57. Mais magro que piolho de peruca.
  • 58. Mais nervoso que gato em dia de faxina.
  • 59. Mais nervoso que peixe na Semana Santa.
  • 60. Mais nervoso que potro com mosca no ouvido.
  • 61. Mais nojento que mocotó de ontem.
  • 62. Mais ocupado que bombeiro do Titanic.
  • 63. Mais perdido que azeitona em pão doce.
  • 64. Mais perdido que cachorro em dia de mudança.
  • 65. Mais perdido que cachorro na procissão.
  • 66. Mais perdido que cebola em salada de frutas.
  • 67. Mais perdido que cego em tiroteio.
  • 68. Mais perdido que cão que caiu do caminhão de mudança.
  • 69. Mais perdido que marinheiro na Bolívia.
  • 70. Mais perdido que surdo em bingo.
  • 71. Mais perfumado que mão de barbeiro.
  • 72. Mais perigoso que barbeiro com soluço.
  • 73. Mais perigoso que cirurgião com soluço.
  • 74. Mais perigoso que macaco com navalha.
  • 75. Mais perigoso que muleta com rodinhas.
  • 76. Mais perigoso que trombada de anão.
  • 77. Mais pesado que pastel de batata.
  • 78. Mais pesado que porta-avião a remo.
  • 79. Mais pesado que sono de surdo.
  • 80. Mais pesado que sopa de mercúrio.
  • 81. Mais pobre que rato de igreja.
  • 82. Mais por fora que cotovelo de caminhoneiro.
  • 83. Mais por fora que surdo em bingo.
  • 84. Mais preocupada que mãe de juiz.
  • 85. Mais quente que frigideira sem cabo.
  • 86. Mais rasteiro que umbigo de cobra.
  • 87. Mais saltitante que manco em tiroteio.
  • 88. Mais sujo que pau de galinheiro.
  • 89. Mais surrado que joelho de sapateiro
  • 90. Mais tranquilo que água de poço.




quarta-feira, 18 de julho de 2012

Conjunções

Classificação das conjunções

Conceito

Conjunção é a palavra invariável que une termos de uma oração ou une orações. No desempenho desse papel, a conjunção pode relacionar termos de mesmo valor sintático ou orações sintaticamente equivalentes - as chamadas orações coordenadas - ou pode relacionar uma oração com outra que nela desempenha função sintática - respectivamente, uma oração principal e uma oração subornada. Observe:

Nossa realidade social é precária e nefasta.
A situação social do país é precária,mas ainda existem os individualistas.
Não se pode deixar de perceber que a situação social do país é precária.

Na primeira frase,a conjunção e une dois termos equivalentes: “precária” e “nefasta”. Na segunda frase, a conjunção mas une duas orações coordenadas : “a situação do pais é precária” e “ ainda existem individualistas.” É fácil perceber que cada uma dessas orações é completa em si mesma,podendo até mesmo ser separada da outra por ponto. Na terceira frase, a conjunção que une a oração “ não se pode deixar de perceber” à oração “ a situação social do país é precária.” Note que o sentido do verbo “perceber” ,é, no caso,”perceber que a situação social do país é precária.” Isso significa que a segunda oração é subordinada à primeira,pois atua como complemento do verbo dessa primeira oração. A conjunção que está unindo uma oração subordinada à sua oração principal.

Locuções conjuntivas

São chamadas locuções conjuntivas os conjuntos de palavras que atuam como conjunções. Essas locuções geralmente terminam em que: visto que, desde que, ainda que, por mais que, à medida que, à proporção que, etc.

As conjunções são primeiramente classificadas em coordenativas e subordinativas , de acordo com o tipo de relação que estabelecem. As conjunções coordenativas ligam termos ou orações sintaticamente equivalentes. As conjunções subordinativas ligam uma oração a outra que nela desempenha função sintática; em outra palavras,ligam uma oração principal a uma oração que lhe é subordinada.

De acordo com o sentido das relações que estabelecem,as conjunções coordenativas são classificadas em:

01.aditivas ( exprimem adição,soma): e,nem,não só...,mas também..., etc;
02.adversativas ( exprimem oposição,contraste): mas,porém,contudo,todavia, entretanto,no entanto, não obstante,etc;
03.alternativas ( exprimem alternância ou exclusão): ou; ou...;ou...;ora...,ora...;etc;
04.conclusivas ( exprimem conclusão): logo,portanto,por conseguinte, pois (posposto ao verbo),etc;
05.explicativas ( exprimem explicação ): pois(anteposto ao verbo),que,porque,porquanto.

Já as conjunções subordinativas são classificadas em :

01..integrantes ( introduzem orações subordinadas substantivas ): que,se,como;
02.causais (exprimem causa) porque,como,uma vez que, visto que,já que,etc;
03.concessivas ( exprimem concessão) : embora, ainda que, mesmo que, conquanto, apesar de que,etc;
04.condicionais ( exprimem condição ou hipótese) : se,caso,desde que, contanto que,etc;
05.conformativa ( exprimem conformidade): conforme, consoante,,segundo,como,etc;
06.comparativas ( estabelecem comparação): como;mais...(do)que,menos...(do) que,etc;
07.consecutivas (exprimem conseqüência ): que,de sorte que,de forma que,etc;
08.finais ( exprimem finalidade): para que, a fim de que, que, porque,etc;
09.proporcionais ( estabelece proporção) : à medida que, à proporção que, ao passo que, quanto mais...,menos...;etc;
10.temporais (indicam tempo ): quando, enquanto, antes que, depois que,desde que,logo que, assim que,etc.

Observação:

A classificação das conjunções devem ser feita a partir de seu efetivo emprego nas frases da língua. Por isso, as relações que apresentam não devem ser memorizadas: você deve consultá-las quando for necessário. O estudo efetivo do valor dessas conjunções só será possível quando observamos atentamente sua atuação.


Extraído de
http://eliorefecruzlima.blogspot.com.br/2010/05/coerencia-e-coesao.html

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O sargento verde - Monteiro Lobato


O Sargento Verde

Era uma vez um homem muito rico, que tinha uma filha, linda, linda. Um dia apareceu um moço, também muito lindo, que quis casar com ela. Foi combinado o casamento, mas Nossa Senhora, que era madrinha de batismo da moça, apareceu-lhe num sonho e disse:

 Minha filha, toma cuidado, porque vais casar com o "cão". Depois do casamento teu marido há de querer levar-te para a casa dele, e o que tens de fazer é o seguinte: irás montada no cavalo mais magro que houver; quando chegares a um ponto do caminho,onde  uma encruzilhada, teu marido quererá tomar pela esquerda; tu tomaras pela direita e nesse momento lhe mostrarás um rosário. Ele então estoura e vai para o inferno.
Afinal chegou o dia do casamento e houve grandes festas, mas desde a noite do sonho a moça andava numa grande tristeza. As palavras de Nossa Senhora não lhe saíam da imaginação.
Na hora da partida trouxeram-lhe um lindo cavalo. Ela recordou-se do sonho e não quis montar nele; pediu outro — o mais magro e feio que houvesse. O pai estranhou aquela esquisitice, mas a moça tanto insistiu que ele teve de ceder — e lá se foi ela no cavalo mais magro e feio que havia.
Quando chegaram à encruzilhada, o "cão" quis que a moça tomasse pelo lado esquerdo, dizendo ser esse o caminho que levava à sua casa.
— Vá o senhor na frente — respondeu a moça — eu sigo atrás. — E assim que ele enveredou pela esquerda, ela tomou pela direita e sacudiu no ar o rosário.
Mal fez isso, ouviu-se um estouro e o ar se encheu de fedor de enxofre. É que o "'cão"havia rebentado e ido para o inferno.
A moça continuou a galope por aquele caminho da direita, até que bem lá adiante teve a idéia de mudar de figura. Apeou, cortou os cabelos e vestiu-se de homem — uma roupa verde. E, verdinha assim, chegou a um reino onde se ofereceu para entrar no exército do rei como sargento.
O rei gostou muito daquele sargento, a ponto de convidá-lo a passear com ele pelos jardins do palácio. É tantos passeios houve que a rainha ficou apaixonada pelo sargento e lhe declarou o seu amor. Mas o sargento respondeu: "Senhora, eu jamais trairei meu rei."
A rainha, furiosa da vida, levantou um falso contra ele, dizendo ao marido o seguinte:
— Saiba Vossa Majestade que o Sargento Verde anda se gabando de que é capaz de subir a cavalo as escadarias do palácio, jogando para o ar três laranjas e aparando-as no mesmo copo.
Admirado daquilo, o rei mandou chamar o Sargento Verde e contou-lhe o caso. O Sargento Verde respondeu:
— Saiba Vossa Majestade que eu não disse isso; mas como a rainha minha senhora afirma que eu disse, estou pronto para subir a cavalo as escadarias e jogar as três laranjas.
Disse aquilo por dizer e, muito triste da vida, foi conversar com o seu cavalo magro, ao qual contou tudo. O cavalo aconselhou-a a que não se amofinasse e que no dia marcado tudo fizesse como a rainha queria.
No dia marcado o Sargento Verde se apresentou para a grande prova, e de fato subiu e desceu várias vezes as escadarias, montado em seu cavalo magro; e lançou para o ar as três laranjas, que aparou direitinho no copo, sem errar uma só.
Teve os maiores aplausos de todos, menos da rainha, que mordeu os lábios de ódio.
 Dias depois, num dos seus passeios pelos jardins do palácio, a rainha achou jeito de novamente lhe declarar amor — e pela segunda vez o sargento respondeu que jamais trairia o seu bom rei. A rainha, então, mais danada ainda, inventou que o Sargento Verde andava dizendo que era capaz de plantar uma bananeira à hora do almoço e ter bananas maduras à hora do jantar.
O rei mandou chamar o Sargento Verde e indagou dele se era verdade aquilo. O sargento respondeu que nada havia dito, mas como não queria desmentir a rainha, estava pronto para plantar a bananeira.
Disse isso e foi, muito triste, conversar com o cavalo magro, o qual lhe falou que plantasse a bananeira e deixasse o resto por sua conta.
No outro dia, lá pela hora do almoço, o Sargento Verde foi e plantou uma muda de bananeira no pátio do palácio, e a planta começou logo a crescer e a deitar cacho, de modo que quando o jantar foi posto na mesa já havia bananas maduras.
Todos abriram a boca de admiração, mas a rainha mordeu os lábios até verter sangue. Apesar disso, tentou mais uma vez o Sargento Verde, declarando-se apaixonada por ele, e o sargento pela terceira vez respondeu que jamais enganaria o seu bom rei. A malvada rainha então foi dizer ao marido que o Sargento Verde andava se gabando de ser capaz de passear a cavalo sobre ovos, sem quebrar um só.
O rei mandou chamá-lo e perguntou se era verdade. O Sargento Verde respondeu que não era, mas como não queria desmentir a rainha, estava pronto para andar a cavalo em cima dos ovos. E andou. Passeou montado no cavalo magro por cima de dúzias de ovos sem quebrar um só.
A rainha inventou contra ele uma quarta perversidade, e foi que ele andava dizendo ser capaz de ir ao fundo do oceano em busca da irmã do rei, que fora aprisionada por um monstro.
O rei chamou o Sargento Verde e indagou se era verdade. Ele disse que não, mas que estava pronto para ir ao fundo do mar em busca da princesa encarcerada. Disse isso e foi conversar com o cavalo magro, ao qual contou tudo.
— Não se amofine — murmurou o cavalo — arranje uma garrafa de azeite, um saquinho de sal e um papel de alfinetes; depois monte em mim e vá para a praia; lá puxe a espada e corte o mar em cruz: as águas se abrirão; entre pela abertura e vá até onde estiver a moça;agarre-a e ponha-a na garupa e toque para trás. Mas muito cuidado com o monstro que guarda a princesa; ele vai persegui-la, e o meio de evitar isso é derramar o saquinho de sal e depois soltar os alfinetes. Durante a corrida a moça pronunciará três palavras. Tome muito sentido nessas palavras.
O Sargento Verde prestou a maior atenção a tudo; arranjou o azeite, o sal, os alfinetes e partiu para a praia do mar. Lá puxou a espada e cortou as águas em cruz. Imediatamente as águas se abriram e ele entrou, e foi até onde estava a princesa encarcerada. Agarrou-a,botou-a à garupa e voltou correndo para a praia. Assim que saiu do mar, a moça disse:"Já!" Ele tomou nota da palavra e viu que o monstro vinha correndo atrás deles.
Lembrando-se da recomendação do cavalo, derramou o saquinho de sal.Imediatamente formou-se uma cerração que atrapalhou o monstro a ponto de fazê-lo parar,sem saber para onde dirigir-se. Enquanto isso, o moço continuava no galope, com a moça à garupa. Logo adiante ela murmurou "Bela!" O Sargento Verde tomou nota da palavra e viu que o monstro havia rompido o nevoeiro e vinha vindo na disparada. Então soltou no ar os alfinetes. Imediatamente se formou uma cerradíssima floresta de espinheiros, que o monstro não pôde atravessar.
Logo depois a princesa, avistando o palácio, murmurou "Tudo!" — e o Sargento Verde tomou nota. Chegaram, houve grandes festas e a rainha ficou ainda mais apaixonada pelo Sargento Verde.
Mas a princesa trazida do fundo do mar não falava. Além das três palavras ditas durante a viagem não pronunciou nem mais uma só. Todos se convenceram de que era muda — e a rainha se aproveitou do fato para lançar outra falsidade contra o Sargento Verde. "Ele anda dizendo — cochichou ao ouvido do rei — que é capaz de fazer a princesa muda falar.
O rei indagou do Sargento Verde se era verdade e ele respondeu como das outras vezes; depois foi perguntar ao cavalo o que devia fazer.
— Não tenha medo de nada — respondeu o cavalo. — Na hora do almoço, dê com uma sova na princesa até que ela conte qual foi a primeira palavra que pronunciou logo ao sair do mar; e na hora do jantar dê-lhe outra sova até que ela conte qual foi a segunda palavra; e na hora da ceia, outra sova até que diga a terceira palavra. Faça isso que a princesa ficará falando.
O Sargento Verde assim fez. Na hora do almoço passou mão numa corda e gritou:"Conte, moça, qual foi a palavra que me disse logo que saímos do mar!" E como ela se conservasse de boca fechada, ele, lepte! lepte! e tanto deu que ela falou: "Já!" "E que quer dizer isso?" Com mais algumas lambadas a moça respondeu que queria dizer: "Já estou livre de muitos trabalhos."
No jantar repetiu-se a cena, e tantas lambadas levou a princesa que repetiu a segunda palavra, "Bela!" e explicou que aquilo queria dizer: "Somos duas donzelas, eu e o Sargento Verde, cujo verdadeiro nome é Lucinda."
Na ceia, a corda fez que a moça repetisse a terceira palavra, "Tudo!" isto é, que se Lucinda fosse homem há muito tempo que a rainha já teria fugido com ele.
Esses acontecimentos assombraram menos ao rei e à corte do que verem Lucinda aparecer vestida de mulher, com o seu cavalo magro virado num lindo príncipe, que logo se casou com a princesa trazida do fundo do mar. O rei não perdoou a traição da rainha.Mandou que a soltassem pelos campos amarrada a dois burros bravos, e casou-se com a boa Lucinda, no meio de grandes festas. E acabou-se a história.

Emília ficou a olhar a cara de Narizinho.
— Esta história — disse ela — ainda está mais boba que a outra. Tudo sem pé, nem cabeça. Sabe o que me parece? Parece uma história que era dum jeito e foi se alterando de um contador para outro, cada vez mais atrapalhada, isto é, foi perdendo pelo caminho o pé e a cabeça.
— Você tem razão, Emília — disse dona Benta. — As histórias que andam na boca do povo não são como as escritas. As histórias escritas conservam-se sempre as mesmas, porque a escrita fixa a maneira pela qual o autor a compôs. Mas as histórias que correm na boca do povo vão se adulterando com o tempo. Cada pessoa que conta muda uma coisa ou outra, e por fim elas ficam muito diferentes do que eram no começo.—
Quem conta um conto aumenta um ponto — lembrou Pedrinho.
— Sim, aumenta um ponto e introduz qualquer modificação. Ninguém que ouça uma história é capaz de contá-la para diante sem alteração de alguma coisa, de modo que no fim a história aparece horrivelmente modificada. Todas as histórias do folclore são assim. Há sábios que pegam nessas histórias e as estudam, e vão indo até encontrarem o seu ponto de. partida. E mostram as mudanças que o povo fez.— Mudanças que as deixam sem pé nem cabeça — insistiu Emília. — Essa do Sargento Verde, por exemplo. É tão idiota que um sábio que quiser estudá-la acabará também idiota. Eu, francamente, passo essas tais histórias populares. Gosto mas é das de Andersen, das do autor do Peter Pan e das do tal Carroll, que escreveu Alice no Pais das Maravilhas. Sendo coisas do povo, eu passo...


1. Ao ler o texto, você verificou que a palavra "mas" está destacada. Por quê?

2. Que palavra poderia substitui-la sem que o texto perdesse o sentido?

3. No texto aparece também a palavra "mais". Explique com exemplos a diferença entre "mas" e "mais".

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Aí, galera! (L.F. Veríssimo)


Aí, Galera
           Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação.  Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo “estereotipação”? E, no entanto, por que não?
           -Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
          -Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
           -Como é ?
           -Aí, galera.
           -Quais são as instruções do técnico?
           -Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.
            -Ahn?
            -É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça.
             -Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
             -Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?
             -Pode.
             -Uma saudação para a minha genitora.
             -Como é?
             -Alô, mamãe!
             -Estou vendo que você é um, um...
              -Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação?
            -Estereoquê?
             -Um chato?
              -Isso.
(http://www.ensinonet.com/c/c/document_library/get_file?p_l_id=11340&folderId=165731&name=DLFE-1311.pdf)




Imagine a seguinte situação: no término de um jogo de futebol, um repórter entrevista um dos jogadores do time que acaba de perder. A entrevista ocorre ainda em campo, minutos após o jogo ter sido finalizado. 


Questões


1. O que gerou humor na crônica de Veríssimo? Explique como isso foi feito. 




2. Quem gosta de futebol sabe que cada jogador tem um jeitinho de falar diferente dos outros. Reescreva a crônica, substituindo as falas do jogador de Veríssimo pelas falas de seu jogador favorito. Se for preciso, pesquise na internet algumas entrevistas e repare na linguagem e nas “frases” utilizadas pelo jogador que você escolheu.



3. Leia as seguintes palavras retiradas da crônica: vaticinou, recesso, aficionados, parcimônia, estereotipação, contenção, concatenarmos, piegas, progenitora. Você conhece o significado delas? Tente descobri-lo pelo contexto. Também consulte um dicionário.




4. Agora que você já sabe o que significam essas palavras, tente reescrever as falas do jogador, utilizando vocabulário mais simples, sem mudar o sentido original do texto.


Atividade extraída de: